Clube de pouca expressão, treinador novo e sem passagem por grandes clubes, time sem grandes nomes e de idade avançada. A receita era de, na melhor das hipóteses, campanha discreta, como objetivo fugir do rebaixamento. Contrariando qualquer expectativa, o Getafe evolui a cada temporada e projeta vôos grandes.
Em 2018-19, o Getafe, clube jovem de 37 anos, fez história ao terminar na 5ª colocação e chegar à Liga Europa, conhecendo o continente de forma oficial. Para mostrar que não era sucesso de uma temporada só, o Geta faz ainda mais bonito no presente, almejando vaga inédita na Champions League.
No momento, o clube ocupa novamente o 5º lugar, mas persegue de perto a vaga para a Champions League. A vitória de ontem no confronto direto contra a Real Sociedad deixa o time a dois pontos do Sevilla, último classificado de momento para a principal competição europeia. Competição essa que pode ser alcançada de forma ainda mais nobre – caso de título da Liga Europa, na qual o Geta segue firme, encarando a Internazionale nas oitavas-de-final.
Todo esse sucesso com um elenco avaliado em 151,4 milhões de euros (apenas o décimo mais valioso da liga), sem nomes de peso – Deyverson, que vinha sendo um dos melhores na temporada, é contestado no futebol brasileiro – deve-se a um comando magistral. Mas quem é o responsável ao dar tamanho equilíbrio e futebol de qualidade a um elenco modestíssimo?
José Bordalás Jiménez, ou Pepe Bordalás teve uma carreira breve e sem brilho, atuando apenas por clubes da terceira divisão espanhola. Encerrando a carreira de jogador precocemente, aos 28 anos, iniciou brevemente a de treinador, em 1993. Treinando clubes da terceira e segunda divisão, seu primeiro sucesso foi conduzir o Alavés ao acesso à elite, em 2015. Desde 2016, é treinador do Getafe.
É só isso? Quem vê os comandados de Bordalás jogarem pode imaginar facilmente que o treinador teve experiências nos grandes centros do futebol mundial. Para ser específico, se pode muito bem fazer a ligação à escola barcelonista de treinadores e a ideia de jogo deixada por Cruyff. Estudioso do futebol, Bordalás traz uma variável do estilo que foi consolidado pelo Barça de Guardiola e tomado como ‘o jogo espanhol’.
Com toques rápidos e inteligentes, construções de jogo cheias de repertório, marcação em pressão, Bordalás traz um jogo simples, até por consciência do que seu elenco é capaz de produzir em termos técnicos e físicos, mas super eficaz.
Experiência é o ponto forte: jogadores “trintões” como Suárez, Mata, Molina e Etxeita sabem controlar e ditar o tom das partidas. Juntam-se os excelentes executadores Maksimovic e Cucurella (comprado recentemente junto ao Barcelona por 10 milhões de euros) e o seguro goleiro David Soria, se tem um time “adequado”. Conseguir mais do que isso, flores ao treinador.
E o time traz em campo a assinatura desse novo, mas já marcante treinador. O primeiro gol da equipe no jogo de ida das 1/16 avos da Liga Europa, contra o Ajax, vai para a conta dele: cobrança de falta ensaiada, toques rápidos, gol de Deyverson.
Veio a parada pela pandemia. Passaram três meses, retornou o futebol na Espanha, e… o Geta segue jogando como o cruyffista Bordalás. Ganhou um pênalti ontem, diante da Sociedad, graças à inteligente roubada de bola no campo de ataque através da marcação em pressão. Infelizmente, com Coliseum Alfonso Pérez vazio.
Sim, a temporada terminará com arquibancadas vazias, porém os torcedores do Getafe estarão cheios de otimismo com o sonho vivido, e com a permissão de sonhar ainda mais até o desfecho. Para isso, cheias também devem estar as pranchetas do promissor Pepe Bordalás.