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Chamar um jogador de negro é racismo sim! Perceba porquê

Infelizmente, o racismo ainda persiste na sociedade atual, e há pouco tempo alguns casos vieram à tona dentro das quatro linhas. Ao longo da história, o termo “negro” vem sendo utilizado perjorativamente como ofensa racial, e dentro de campo, nas últimas semanas, foi o gatilho para uma serie de denúncias de racismo em partidas de futebol envolvendo brasileiros e sul-americanos. Um exemplo de denúncia foi a realizada contra o uruguaio Edinson Cavani (futebolista do Manchester United), que acabou sendo suspenso e multado ao se referir a um amigo como “negrito”. 

    Já outro caso que gerou bastante repercussão ocorreu durante o primeiro jogo da semifinal da Libertadores entre Santos e Boca Juniors. O atacante do Boca Juniors, Árica, se referiu ao jogador do Santos, Marinho, como “negro”, e logo depois tentou se “corrigir”, utilizando o termo “moreno”. Árica ainda tentou justificar a sua atitude, alegando que “porque agora se você fala ‘negro’, te denunciam”. Na outra partida das semifinais, os jogadores voltaram a se reencontrar, e Marinho entrou em campo com uma chuteira customizada com a frase “Black Lives Matter” (Vidas Negras Importam). Ambos futebolistas se cumprimentaram e se abraçaram. 

Esses episódios reacenderam a necessidade de uma discussão mais ampla sobre as palavras que utilizamos em nosso vocabulário, e de que forma esses termos impactam diretamente o cenário do futebol. Os casos não são somente entre atletas, como também pessoas na torcida, que cometem injúria racial contra jogadores em campo. Felizmente, a maioria dos torcedores prefere se entreter assistindo aos jogos, apoiando os jogadores em campo, e aproveitando para apostar no 1xbet Brasil e se divertir sem prejudicar o outro.

Recentemente, foi realizada uma entrevista com diversos especialistas em linguística, relações étinco-raciais e  comunicação, para entendermos porque a palavra negro tem sido tão contestada dentro e fora dos campos, e saber em quais contextos ela pode ser considerada depreciativa e qual seria o papel dos times no combate ao racismo.

O que dizem os especialistas

    De acordo com o doutor em educação pela USP (Universidade de São Paulo), Edson Cardoso, “É preciso ter um cuidado enorme com tudo isso, mas é uma evidência do passado de uma sociedade que é resultado de um processo colonial, no qual o racismo é parte da organização social e que atravessa uma cultura em diferentes níveis. Neste sentido, a organização de uma sociedade é feita através de um conjunto de hierarquizações, no qual a cor da pele é uma das questões centrais. Ela foi fundamental para acumulação de riquezas, ela mexe com histórias e privilégios”. Para ele, determinar se a palavra negro foi utilizada de maneira racista, é preciso analizar o momento, entonação e objetivo – porém, quando ela é utilizada de maneira depreciativa, se dá por conta da hierarquização racial.

    Para a doutora em letras e linguística pela UFBA (Universidade Federal da Bahia), Maria Nazaré Mota de Lima, a palavra negro contém muitos significados, e que uma análise de discurso não deve ser pautada somente em um termo isolado. É necessário verificar quem disse, quando disse, para quem disse, e qual o intuito, se há relação de poder entre os envolvidos e em que contexto a palavra foi dita. Mas a professora ressalta que é importante intensificar este debate dentro do futebol, já que um é um ambiente onde mesmo tendo vários casos de racismo, muitas vezes fica um tanto longe de tomar medidas cabíveis, que realmente podem auxiliar na erradicação de outros episódios de violência racial. 

    O que os clubes podem fazer

    As ações dos grandes clubes do futebol começaram timidamente. O Bahia foi um dos pioneiros a buscar um maior engajamento na luta antirracista. Em 2018, o time criou o Núcleo de Ações Afirmativas, que busca combater o racismo, a LGBTfobia, a intolerância religiosa e o machismo. Ainda em dezembro de 2020, o Bahia realizou o programa “Dedo na Ferida”, que tinha como intuito discutir os impactos do racismo institucional e estrutural presentes na sociedade brasileira.    Já o Palmeiras costuma discutir o tema no seu Núcleo Socioeducacional junto à categoria de base, onde os jovens participam de palestras que exploram a temática.

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