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Athletico: Ressurreição de Walter é também reinício no time

A grande vitória do Athletico sobre o Jorge Wilstermann, na noite desta terça-feira, em Cochabamba, Bolívia, apesar de mais importante, não foi o fato mais comentado pelos torcedores.

Jogo definido nos acréscimos, vitória fora de casa, triunfo na altitude. Todos esses respeitáveis fatores acabaram em segundo plano, ao menos por enquanto. Ganha os holofotes o renascimento de uma figura conhecida.

Desde que saiu do Athletico, em 2016, Walter sofreu de descontinuidade devido sobretudo às más condições físicas. Sempre afastado da boa fase e dos olhares nacionais, passou apagado por Goiás, Atlético-GO, Paysandu, CSA e Goiás novamente, antes de receber o voto de confiança rubro-negro.

Em maio de 2020, o acordo do Furacão era de que Walter utilizasse o tempo de paralisação para recuperar o físico, podendo contribuir futuramente com a equipe. A contestação de grande parte da torcida foi instantânea, uma vez que o atacante vinha de um acordo semelhante em 2019, com o Goiás, e não conseguira alcançar a forma física adequada.  

Pois bem, o ‘período de provação’ passou, e Walter foi integrado à equipe principal. A forma física é “quase ideal”, dirão alguns céticos que acreditam que apenas a magreza total traria de volta a eficiência que o consagrou. “Quase magro”, Walter se movimentou, participou do jogo, exatamente como antes.

E foi premiado – com a oportunidade de mostrar justamente o faro de gol, que não escolhe jogador pelo porte físico; aos 46 do segundo tempo, “Walterror” teve a habilidade de se desvencilhar dos quatro ou cinco defensores bolivianos que povoavam a área, para receber passe açucarado de Jonathan.

Com classe, dominou a bola e a enviou para o canto, com a mesma frieza que é aclamada pelos maiores atacantes de todos os tempos. Como quem nunca deixara de ser íntimo da única fome possível: fome de gols.

O jogo…

O desafio da condição geográfica abrilhanta o triunfo rubro-negro, mas o torcedor tem o direito de festejar o fato isolado da vitória fora de casa. Há tempos, jogar fora de Curitiba pela Libertadores é um problema para o Furacão.

No ano passado, o time perdeu todas as partidas longe de seus domínios, uma delas inclusive para o próprio Jorge Wilstermann. Este ano, antes da paralisação, sofrera revés do Colo-Colo.

Motivado pela vitória sobre o rival Coritiba no fim de semana, o Athletico retornou à Libertadores disposto a quebrar o padrão ruim. E encontrou dificuldades no time boliviano, mesmo que a este faltasse ritmo de jogo (na Bolívia, a exemplo da Argentina, o campeonato nacional ainda não foi retomado, diferentemente do restante do continente).

Após um início morno e um golpe duro logo no início – 10 minutos, 1 a 0 para os bolivianos – o time brasileiro reagiu e tentou por diversos meios chegar ao gol. A recompensa veio com o mais básico deles, o pênalti. O ídolo Lucho González, mesmo com a altitude pesando sobre seus 39 anos de idade, converteu a cobrança e levou o empate pro intervalo.

No segundo tempo, nova dificuldade ao enfrentar os mais de 2.500 metros de altitude. O JW usava de seu principal recurso para conseguir vencer. E, logo aos 10 minutos (assim como na primeira etapa), nova vantagem boliviana. O brasileiro Serginho finalizou bela troca de passes e fez 2 a 1.

Novo golpe, nova reação. O Athletico deixou para trás a difícil condição e pôs-se a jogar com todo o possível. Christian, de apenas 19 anos, fez jogada de gente grande para empatar o jogo novamente.

Christian foi um dos heróis da noite, ao arrancar o empate / Foto: Athletico / Fabio Wozniak

O empate era um bom resultado, dadas as circunstâncias. O jogo se abria na reta final, dando cara de que um dos dois lados ainda definiria o placar. O filme dos 3 a 2 para o Wilstermann de 2019 quase se repetiu, mas Santos evitou com uma grande defesa. No filme de 2020, o desfecho foi surpreendente.

Logo após a grande defesa de Santos, o mesmo Christian, autor do empate, deu lugar ao predestinado Walter. O caminho para a vitória começava a se abrir quando Serginho, do time boliviano, recebeu o segundo amarelo e desfalcou a partida.

Um jogador a mais pelo lado do Furacão. E este foi justamente aquele que não dava as caras há muito tempo, mas que precisou de apenas uma chance. Esse foi Walter, recebendo bom cruzamento de Jonathan – lateral de 34 anos que, em plena altitude, aos 46 do segundo tempo, teve a coragem de correr à linha de fundo – e completando categoricamente no canto esquerdo de Giménez.

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E como o Athletico fica?

No Grupo C, posição confortável. Só não lidera isoladamente pois o Colo-Colo fez o dever de casa, batendo o Peñarol. O grupo, outrora rigorosamente equilibrado (todos com três pontos), agora tem linha de frente: seis pontos para o Furacão e os chilenos, contra três de Wilstermann e Peñarol.

A vitória, contudo, é mais crucial do que se pode imaginar: levando em consideração a relativa equivalência técnica entre os três adversários, o duelo contra o Jorge Wilstermann, na Bolívia, tornava-se o mais temido, em razão do desafio da elevada altitude.

Passado o confronto mais fatigante, o Furacão agora só sairá de Curitiba para a “vizinha” Montevidéu, onde enfrenta o Peñarol. Os compromissos restantes serão na capital paranaense: Colo-Colo e o próprio Wilstermann.

Um furacão prejudica o vôo…

Caso não saibam, o clube Jorge Wilstermann foi fundado por ex-funcionários de uma importante companhia aérea boliviana. Seu nome é homenagem póstuma ao primeiro piloto comercial da história do país, que faleceu com apenas 26 anos – em homenagem, passou a nomear também o Aeroporto Internacional de Cochabamba. Até o escudo do Wilstermann alude ao formato do avião. Pois bem…

Jorge Wilstermann, primeiro piloto comercial da Bolívia

…o que o JW não esperava era que seu voo perfeitamente planejado seria obstaculizado por um movimento natural mais intenso que sua própria condição geográfica habitual. O time de Eduardo Barros manteve-se focado para não se deixar abater pela altitude e batalhar até o fim para pontuar. Um ponto era bom, três foi demais.

O que o jogo traz?

Reencontros: de Walter com o Athletico (já havia reestreado, discretamente, contra o Fluminense), de Walter com o gol, do Athletico com a vitória distante na Libertadores, do Athletico com a atuação convincente (mesmo que alguns pensem o contrário), do Athletico com o espírito vitorioso de 2019 – são os aspectos principais.

Para Eduardo Barros, traz confiança em sua continuidade como treinador. Enquanto o clube ainda não define o substituto, o interino vai mostrando seu trabalho, até que, de tão bom, acabe sendo o próprio a assumir as pranchetas. Com Tiago Nunes, no passado próximo, foi assim.

Além das condições favoráveis para avançar aos mata-matas da Libertadores, a partida deve servir como combustível para uma reação no Brasileiro, evitando posições incômodas e redirecionando o clube à provável briga por vaga na Libertadores 2021.

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